O que o levou a optar pela arquitetura?
(…) Fui descobrindo a arquitetura porque não tinha antecedentes nesta área. Tinha familiares que trabalhavam no âmbito da arquitetura, mas não eram propriamente arquitectos. Tinha pais que eram decoradores, portanto que se relacionavam também com a arquitetura de algum modo, mas depois havia esta divergência familiar em que a minha mãe puxava mais para a Arquitetura, eu claramente para as Belas Artes e o meu pai claramente pela Engenharia. (…)
Como foi, até ao momento, o seu percurso profissional?
Devo dizer que não foi nada fácil, eu julgo que o percurso dos arquitectos nunca é fácil. (…) Tem sido um percurso feito muito a pulso, digamos. Foi feito também de muitas frustrações, devo dizer. No início de carreira comecei a trabalhar sozinho, com um colega em que tínhamos uma sociedade, éramos bastante jovens e percebemos que aquilo que extinguiu ao fim de dois anos por incapacidade de gestão daquilo que era propriamente a economia da nossa atividade.
(…) Eu candidatei-me a uma vaga no Arquitecto Siza e acabei por ficar, portanto passei grande parte destes últimos vinte anos a trabalhar com o Arquitecto Siza, mas ele também foi bastante simpático comigo a uma determinada altura e ao fim de quatro anos eu estava a trabalhar a meio-tempo no gabinete. Uma parte do tempo trabalhava com o Arquitecto Siza e uma parte do dia eu trabalhava no meu próprio gabinete com um ou dois colaboradores que tinha na altura. (…) Portanto andei aqui muitos anos a praticar em ambos os lados com coisas no meu escritório, do ponto de vista programático, bastante mais acessíveis e do ponto de vista da atividade dentro do gabinete do Arquitecto Siza eu tinha uma atividade muito mais intensa, muito mais complexa dentro de programas que podia experimentar, de alguma forma apoiado, estes exercícios da arquitetura.
Qual é a área que mais gosta de projetar dentro de uma casa?
Não tenho nenhuma preferência por áreas de projetar dentro de uma casa. Eu diria que toda a casa é sempre um desafio. Cada espaço tem que ser interpretado enquanto a função que acolhe, mas todos os espaços são sempre desafiantes para se projetar. Claro que, de uma forma mais ou menos transversal, há uma série de espaços que não são tão agradáveis, mas até esses tem sido um desafio para nós aqui no gabinete. Quando se fala, por exemplo, nas garagens, nós de há uns anos para cá temos vindo a transformar este conceito do que é a garagem. Normalmente é um espaço secundário na casa, mas se pensarmos muito bem, é cada vez mais a nossa receção na casa. Entramos, por exemplo, com o automóvel dentro de casa, hoje em dia os automóveis entram da rua para dentro do edifício e somos levados em elevador até ao apartamento, portanto a qualificação dos espaços de habitar e muitas vezes passam-se lá muito tempo e se dizem secundários não podem ser tratados como espaços secundários. Cabe-nos a nós arquitectos fazer esse desafio também aos nossos clientes, pararem e pensarem naquilo que se pode ganhar através da qualificação desses espaços.